terça-feira, novembro 01, 2005

do outro lado

Não, o sonho não se ia embora. Era tudo sono. Falta de dormir. Tinha dançado na noite anterior, muito. Tinha dançado na noite anterior muitas danças europeias. Talvez por ter andado descalça se sentia mais cansada, os pés mais duros. Mas não. Decididamente, o sonho não se ia embora. Tinha sido só a inês a acordá-la mais cedo nesse dia, o corpo ainda dormente, a cabeça ainda adormecida. E passou assim o seu dia. Não por querer sentir as pálpebras a fecharem-se em cada intervalo mais calmo, mas por querer aproveitar de olhos bem abertos esse feriado, uma terça-feira depois de danças, antes de aulas. E assim sentiu durante todo o dia os seus olhos abertos profundamente fechados. O sonho da noite anterior rolar a cada passo na baixa, palpitar em cada sorriso desprevenido. E assim viveu durante todo o dia as danças da noite anterior e a surpresa da vinda da inês. Os passos em músicas de verão, as gargalhadas de um aprender contínuo, as pernas cruzadas no chão quando o cansaço ofegante a abraçava de tantos saltos.

E não, o sonho não se foi embora. E seria só mais um intervalo de tempo até voltar a rever quem veio dos lados do norte para andanças de inverno. Seria só mais um intervalo de tempo até se voltar a sentir abraçada. Seria só mais um intervalo de tempo até voltar a dançar.

E foi só mais um ínfimo intervalo de tempo até fechar os olhos e voltar a sonhar...